O Salto Quântico.

Chegamos as 4 da tarde no lodge, tempo para repensar o dia, o que aconteceu, o que foi de errado. Como Mestre Lincoln (mais sobre ele no decorrer) disse


                “O permit cria problemas e erros”.


É um alvo móvel em constante mutação, o shamã sabe que enxerga o futuro e sabe também que ao enxerga-lo este muda automaticamente. Este peixe é uma holografia. Chega a ser Física Quântica, ao observarmos um evento, este muda por que o observamos. 


E olhando para o mar da varanda do quarto enquanto espero o gerador ser ligado para tomar um banho, fico pensando nisso, e chego a conclusão:





-Puta Merda. Se eu voltar pra casa sem um peixe, vou vender tudo que tenho e me dedicar ao cultivo de orquídeas, criação de micro pooddles ou de qualquer outra coisa neste nível de boiolice.


Prrrrooooop prop prop prop prop prop ….


Gerador ligado, banho de água quente tomado (água doce para banheiro vem da coleta de água de chuva), jantar as 6 da tarde.


Enquanto aguardo servirem na cabana principal folheio o livro de hóspedes. Diversos japoneses, alguns europeus e muitos americanos. Nenhum brasileiro. Fui o primeiro brasileiro no lodge. Yes FSBrazil! 


E lendo os relatos comecei a ficar mais e mais assustado. Frases do tipo “Não pegamos nenhum mas foi uma boa estadia” eram muito comuns. 
Pronto, não durmo hoje.


De volta ao quarto, foquei a mente e deixei que as brisas do oceano limpassem os maus pensamentos.





5 da manhã já no flat, a cena se repete, os peixes aparecem, e esnobam a isca. Este esnobar não é uma coisa ruim para ser mau. Eles se comportam de uma maneira incrivelmente diferente de todo e qualquer peixe. São tantas as variáveis, tantas as maneiras de aproximação e apresentação e trabalho de isca que não é possível relatar completo, é como as mudanças do clima, toda hora uma coisa diferente. Os peixes apareciam e algo sempre estava fora do certo. 


A tarde corria rapidamente para o desfecho, um último longo flat. O calor, o sol, o sal na cara, o suor e uma dor de cabeça de quebrar cimento. 


Minha fé estava acabando. Cheguei seriamente a pensar a falar pro guia para voltarmos ao lodge, chega, não aguento mais, não está dando certo, e são nestes momentos nos quais quase quebramos que a nossa crença deve falar mais alto. Abri uma garrafa de coca cola tomei num gole só e disse, vamos pro outro flat. O Salto Quântico.



E ali a Consagração. Demos de cara com um cardume de uns 8 peixes, todos comendo e passeando. Meu estado mental manteve-se tranquilo, prestando atenção em todas as palavras do guia e agindo de acordo.







Arremesse agora.
Deixe afundar.
Não mexa a isca.
Dê um toque de leve.
FISGUE !


PÁ !
Que força ! 


Não deixe ele correr ! Não deixe ele correr !
Se deixar correr com o grupo eles somem do flat e vão para os corais e já era.

Girei o freio da sage 6080 no máximo e o peixe ainda puxava linha. A força do animal é acima de todo e qualquer peixe que já encontrei. 


E com calma e serenidade conseguimos embarcar e soltar meu primeiro permit.



Voltamos para o lodge. Tomei uma cerveja Belkin. E agradeci aos Céus.



Melhor do que ter pego um primeiro permit é ter pego um Permit usando HAVAIANAS. Isso ninguém tinha feito.

Depois desse dia eu já queria voltar pra casa. Ainda dá um frio na barriga de ter pensado que poderia ter virado um colecionador de orquídeas…. Mas havia mais dois dias, dessa vez com o Mestre Lincoln Westby.

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